domingo, 8 de janeiro de 2017



A Luz-da-Chapada

            Na região central de Minas Gerais existe uma lenda de que uma luz muito forte, conhecida como Luz-da-Chapada, costuma amedrontar as pessoas, aparecendo nos campos à noite e, às vezes, seguindo gente, carro, carroça, ou o que estiver passando (pouco seletiva). É claro, fui lá conferir. O compadre Paulo Couto me recebeu em seu sítio e, enquanto tomávamos café (daquele tirado da bosta do jacu), comíamos pão-de-queijo (não gosto muito, mas para não fazer desfeita...) e falávamos da vida dos outros (como é de praxe para qualquer mineiro), um resplendor invadiu o quintal e ofuscou nossa vista, deixando raios de forte luz entrar pela janela entreaberta.
O compadre, já com trauma da tal Luz-da-Chapada, se trancou no banheiro. Como bom cabra-macho que sou, não me amedronto por pouca coisa. Abri a porta, saí e andei de encontro à forte luz, que se movia em ziguezague pelo quintal. As galinhas se assustavam nos poleiros. Quando estava bem próximo, percebi que a tal luz provinha, na verdade, da lamparina de uma velha banguela, visivelmente alcoolizada, que andava cambaleante, aparentemente sem saber onde estava. Perguntei-lhe então: “Domaria, a senhora tá bêbada?”. Ela, com cara de cachaceira, me respondeu sorridente (com aquele sorriso sem dente): “Tô bêba nada; só tô mêi chapada”. Foi aí que eu entendi o significado de Luz-da-Chapada.

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