quarta-feira, 19 de abril de 2017



Rio Doce

Rio doce
Doces torrentes
Nervuras que levam seiva
Seiva que nutre
Artérias que levam vida
Ao coração da mata
Da mata do Rio Doce
Da mata luxuriante

Águas que murmuram
O murmúrio da vida
O murmúrio dos peixes
O murmúrio das brancas garças
O grasnar dos roucos socós
O matraquear do martim-pescador
Matraca flecha
Flecha de índio esperto
Que fura a água e flecha peixes

Doce rio
Doce murmúrio
Doce lamúria
Lamúria de límpidas águas
Que banham florestas
Matas que abrigam a anta
E escondem a temida onça

Águas que formam lagos
Lagos de vida
Bancos de macrófitas
Folhas palmadas de ninfeias
Jangadas de jaçanã
Jaçanã de dedos longos
E grasnar engasgado
Esganado
Por entre as espetaculares flores
Flores de lótus

Aguapés à deriva
Palco de lavadeiras
Lavadeiras em preto e branco
Soltam asa e canto
Maestro regendo para o murmúrio das águas
Para a canção do rio
Para o gemido das torrentes

Torrentes que abrigam o dourado
A curimba, o pacumã
Peixes grandes, frias cobras
Que serpenteiam por entre as pedras
Como o Rio Doce serpenteia por entre os montes