A
Luz-da-Chapada
Na região central de Minas Gerais existe uma lenda de que uma luz muito forte,
conhecida como Luz-da-Chapada, costuma amedrontar as pessoas, aparecendo nos campos
à noite e, às vezes, seguindo gente, carro, carroça, ou o que estiver passando
(pouco seletiva). É claro, fui lá conferir. O compadre Paulo Couto me recebeu
em seu sítio e, enquanto tomávamos café (daquele tirado da bosta do jacu),
comíamos pão-de-queijo (não gosto muito, mas para não fazer desfeita...) e
falávamos da vida dos outros (como é de praxe para qualquer mineiro), um
resplendor invadiu o quintal e ofuscou nossa vista, deixando raios de forte luz
entrar pela janela entreaberta.
O compadre, já
com trauma da tal Luz-da-Chapada, se trancou no banheiro. Como bom cabra-macho
que sou, não me amedronto por pouca coisa. Abri a porta, saí e andei de
encontro à forte luz, que se movia em ziguezague pelo quintal. As galinhas se
assustavam nos poleiros. Quando estava bem próximo, percebi que a tal luz
provinha, na verdade, da lamparina de uma velha banguela, visivelmente
alcoolizada, que andava cambaleante, aparentemente sem saber onde estava.
Perguntei-lhe então: “Domaria, a senhora tá bêbada?”. Ela, com cara de
cachaceira, me respondeu sorridente (com aquele sorriso sem dente): “Tô bêba
nada; só tô mêi chapada”. Foi aí que eu entendi o significado de
Luz-da-Chapada.
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